terça-feira, 23 de outubro de 2007

Logo logo estarei ficando mais velho, a barba já ficou grisalha a algum tempo, e a beleza jovem de vinte e poucos anos já se perdeu, com ela se perde as vaidades e o sorriso que era bem menos amarelo do que hoje. Amanhã o dia vai começar como todos os outros, depois da meia noite e seus micros segundos que se pode marcar vai dizer que um novo dia começou, o sol vai esta onde sempre esteve, vai pintar lá para as cinco e alguma coisa e com certeza eu devo ainda está acordado e ainda bêbado como todos os dias. Do que importa contar os dias? Poderíamos contar as horas e os segundos, celebrar as datas é inútil, pois todos os dias são iguais, fim de ano muda de data no ano que é bissexto, nem no natal foi a noite que Jesus nasceu, realmente não sei para que servem as datas, odeio calendários e relógios. Ainda lembro quando era jovem, correndo a mil pelo tempo, encantado com o arco-íris, com a lua, com as estrelas, encantado com as lendas da cidade fria que conhecia, com os mistérios dos bares e das mulheres, mas aos poucos vamos aprendendo que tudo não passa de uma ilusão para colorir o vazio, não queria voltar a acreditar no pote de ouro no final do arco-íris como quando eu ainda era uma criança e meu irmão mais velho me contava historias sobre tudo que era fantástico, mas para ser sincero gostaria de ainda ver as suas sete cores e me encantar com sua beleza, mas hoje abro minha janela desse antigo casarão e do meu pequeno apartamento com cheiro de cinzeiro e mofo vejo o arco-íris no céu e ele é apenas um arco-íris como tantos outros que já vi, e assim um beijo é apenas o encontro de duas bocas, uma canção é só um monte de palavras acompanhada por algum instrumento e uma poesia não passa de um sentimento de um poeta desavisado de que todos os sentimentos se perdem, morrem, e então para que sentir? Uma tarde no cinema com sua garota é apenas duas pessoas vendo uma historia e que de nada importa aqueles papos que você escuta enquanto come uma pipoca e bebe uma coca-cola, pois não passa de uma historia e historias existem tantas por ai.
Então logo logo estarei mais velho eu e tantos neste mundo também ficarão mais velhos, e que na verdade todos os dias ficamos mais velhos, os amigos, a festa, a celebração, nada mais é do que nada mesmo, o mundo deveria esquecer as datas, as alianças, se torna frio como um enorme iceberg, e pessoas deveriam ser apenas cubos de gelos caminhando por ai esperando o dia de se derreter. Pois tudo realmente se acaba, aquela sessão de cinema, aquele beijo, o saco de pipoca a garrafa de coca-cola, tudo isso se acaba e vira historia, e até as historias se acabam na memória, me desculpe o Roberto Carlos em seu Lp de 71 com seus detalhes tão pequenos, pois se são pequenos jogue na descarga, acredito que não entope, o que entope é a garganta cheia de emoções que teimamos em carregar conosco, já que a garganta tem apenas sua função respiratória e digestiva. Do que importa as emoções se elas também partem e o nosso coração que teimamos em acreditar que sente alguma coisa, ele apenas bate e o que ele pode sentir é um ataque fulminante que nos mata e leva todas estas baboseiras que teimamos em acreditar.
Já fui jovem, amante inconseqüente de tudo que poderia me apaixonar, já fui jovem e acreditei nas palavras, no aperto de mão, no abraço, no beijo, no sexo, nas pessoas, mas hoje aqui nesta velha cadeira encostada nesta velha escrivaninha, nesta velha maquina de escrever barulhenta e companheira, percebo que fui tão tolo, acreditando em toda grandeza do mundo, amando com toda inconseqüência que alguém pode amar, fazendo meu coração explodir apenas com o toque de um dedo desavisado que minha alma é de vidro, frágil e transparente como um cristal de alguns milhões de dólares que um outro desavisado iludido paga para ter sem imaginar que tudo isso também se quebra e se acaba. Me arranhei tantas vezes como um vinil mal cuidado que a agulha enganchou para repetir a frase que tudo é culpa da inocência do amor, inocência das emoções, inocência dos sentimentos, já que nada tem importância para que se importar? Logo logo, amanhã fico mais velho, mais perto da morte, com certeza nenhum telegrama com parabéns, tenho a companhia de uma boa garrafa de vinho do porto, não preciso de bolo nem de velas, não preciso de ninguém, amanhã é como qualquer outro dia, é como hoje, é como ontem, só não igual dentro de mim, amanhã não sou o jovem de vinte e poucos anos, andando pela noite, sonhando com sentimentos carregados na alma, não sou o mesmo homem, o dia de amanhã será cheio da mesma rotina cansativa de amanhecer, de pôr do sol, de noite estrelada, dentro de mim tudo isso passou, amanhã continuo sendo o Jorge Di Lacio com a certeza que amanhã é só mais um dia para se magoar, essa é a certeza, um dia é só um dia, o que importa é o sentimento que você entregou a estas vinte e quatro horas...

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Recortes da memória



Assim são os encontros, átomos, tempo e espaço, Kerouac e uma maquina de datilografar, as estrelas e os ciganos, John e Paul em Liverpool. Um café e um cigarro se encontram em um fim de tarde, enquanto em algum lugar uma agulha acaricia um vinil.
Lápis e papel, Hitler e o bigode, língua e saliva num ménage com a orelha, uma bela e seu poeta, esquinas e avenidas, a madrugada fazendo companhia a boemia. Lua e gatos, o sol e a janela, o guarda chuva adora a tempestade, o silencio ama a biblioteca, a rosa transa o beija-flor.
Pênis e vagina para os céticos, paus e bucetas para os apaixonados, crimes e tragédias, a noite e o fim da tarde. Paixões e discussões, o amor e seu caso extra conjugal com o ciúme. Os guerreiros e suas espadas, o cisne e o lago para o olhar metafórico dos clássicos, a janela se excita com as caricias dos raios do sol, os encontros são mais que o acaso. O amor pede para eu te convidar para um café...

Recortes da memória

Há tempos não te faço uma declaração. Te deixando dançar sozinha pela noite sem mim. Não elogiei quando você cortou os cabelos, te deixei esperando no sofá da sala até você cair no sono, parecendo que não te amo. Mas não se confunda, eu sou apenas isso aí, às vezes acerto, te encontro te canto e tomamos um café para dois no aurora, aquele café que eu coloco pouco açúcar para sentir o amargo e acender o cigarro enquanto vou mexendo o seu açúcar com a colher de chá. Mas às vezes sem aviso desapareço na noite quase escura de lua quase cheia, uma dose, um pileque, outra ressaca. (De manhã quero tuas caricias para cuidar de mim). Sei que não é assim, quando te faço chorar, não te ligo, nem te digo por onde estou, você quase sempre tem razão de reclamar de eu só lhe procurar quando as estrelas voltam a se esconder, sei que minha amante é a noite e ando cansado de suas caricias frias em mesas de bares, queria te fazer uma promessa, mas não devo arriscar, vou apenas tentar cair no seus braços antes das cinco da tarde, para quando a noite chegar e nos ver amando, se enlouqueça de ciúmes e nunca mais venha me procurar.