terça-feira, 23 de outubro de 2007
Então logo logo estarei mais velho eu e tantos neste mundo também ficarão mais velhos, e que na verdade todos os dias ficamos mais velhos, os amigos, a festa, a celebração, nada mais é do que nada mesmo, o mundo deveria esquecer as datas, as alianças, se torna frio como um enorme iceberg, e pessoas deveriam ser apenas cubos de gelos caminhando por ai esperando o dia de se derreter. Pois tudo realmente se acaba, aquela sessão de cinema, aquele beijo, o saco de pipoca a garrafa de coca-cola, tudo isso se acaba e vira historia, e até as historias se acabam na memória, me desculpe o Roberto Carlos em seu Lp de 71 com seus detalhes tão pequenos, pois se são pequenos jogue na descarga, acredito que não entope, o que entope é a garganta cheia de emoções que teimamos em carregar conosco, já que a garganta tem apenas sua função respiratória e digestiva. Do que importa as emoções se elas também partem e o nosso coração que teimamos em acreditar que sente alguma coisa, ele apenas bate e o que ele pode sentir é um ataque fulminante que nos mata e leva todas estas baboseiras que teimamos em acreditar.
Já fui jovem, amante inconseqüente de tudo que poderia me apaixonar, já fui jovem e acreditei nas palavras, no aperto de mão, no abraço, no beijo, no sexo, nas pessoas, mas hoje aqui nesta velha cadeira encostada nesta velha escrivaninha, nesta velha maquina de escrever barulhenta e companheira, percebo que fui tão tolo, acreditando em toda grandeza do mundo, amando com toda inconseqüência que alguém pode amar, fazendo meu coração explodir apenas com o toque de um dedo desavisado que minha alma é de vidro, frágil e transparente como um cristal de alguns milhões de dólares que um outro desavisado iludido paga para ter sem imaginar que tudo isso também se quebra e se acaba. Me arranhei tantas vezes como um vinil mal cuidado que a agulha enganchou para repetir a frase que tudo é culpa da inocência do amor, inocência das emoções, inocência dos sentimentos, já que nada tem importância para que se importar? Logo logo, amanhã fico mais velho, mais perto da morte, com certeza nenhum telegrama com parabéns, tenho a companhia de uma boa garrafa de vinho do porto, não preciso de bolo nem de velas, não preciso de ninguém, amanhã é como qualquer outro dia, é como hoje, é como ontem, só não igual dentro de mim, amanhã não sou o jovem de vinte e poucos anos, andando pela noite, sonhando com sentimentos carregados na alma, não sou o mesmo homem, o dia de amanhã será cheio da mesma rotina cansativa de amanhecer, de pôr do sol, de noite estrelada, dentro de mim tudo isso passou, amanhã continuo sendo o Jorge Di Lacio com a certeza que amanhã é só mais um dia para se magoar, essa é a certeza, um dia é só um dia, o que importa é o sentimento que você entregou a estas vinte e quatro horas...
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Recortes da memória
Assim são os encontros, átomos, tempo e espaço, Kerouac e uma maquina de datilografar, as estrelas e os ciganos, John e Paul em Liverpool. Um café e um cigarro se encontram em um fim de tarde, enquanto em algum lugar uma agulha acaricia um vinil.
Lápis e papel, Hitler e o bigode, língua e saliva num ménage com a orelha, uma bela e seu poeta, esquinas e avenidas, a madrugada fazendo companhia a boemia. Lua e gatos, o sol e a janela, o guarda chuva adora a tempestade, o silencio ama a biblioteca, a rosa transa o beija-flor.
Pênis e vagina para os céticos, paus e bucetas para os apaixonados, crimes e tragédias, a noite e o fim da tarde. Paixões e discussões, o amor e seu caso extra conjugal com o ciúme. Os guerreiros e suas espadas, o cisne e o lago para o olhar metafórico dos clássicos, a janela se excita com as caricias dos raios do sol, os encontros são mais que o acaso. O amor pede para eu te convidar para um café...
Recortes da memória
Há tempos não te faço uma declaração. Te deixando dançar sozinha pela noite sem mim. Não elogiei quando você cortou os cabelos, te deixei esperando no sofá da sala até você cair no sono, parecendo que não te amo. Mas não se confunda, eu sou apenas isso aí, às vezes acerto, te encontro te canto e tomamos um café para dois no aurora, aquele café que eu coloco pouco açúcar para sentir o amargo e acender o cigarro enquanto vou mexendo o seu açúcar com a colher de chá. Mas às vezes sem aviso desapareço na noite quase escura de lua quase cheia, uma dose, um pileque, outra ressaca. (De manhã quero tuas caricias para cuidar de mim). Sei que não é assim, quando te faço chorar, não te ligo, nem te digo por onde estou, você quase sempre tem razão de reclamar de eu só lhe procurar quando as estrelas voltam a se esconder, sei que minha amante é a noite e ando cansado de suas caricias frias em mesas de bares, queria te fazer uma promessa, mas não devo arriscar, vou apenas tentar cair no seus braços antes das cinco da tarde, para quando a noite chegar e nos ver amando, se enlouqueça de ciúmes e nunca mais venha me procurar.